sábado, 21 de setembro de 2013

XII Expressões e I Feira Anarquista em Ribeirão Preto/SP

XII Expressões e I Feira Anarquista em Ribeirão Preto/SP Divulga e participa! Mais informações em: exprana@riseup.net Evento que ocorre em Outubro, aberto a todxs (coletivxs e individuxs), com oficinas, conversas relacionadas ao anarquismo e diversas expressões na luta contra a opressão e exploração. Na construção do anarquismo através de práticas livres. Mais informações: Expressões Anarquistas contato Historia do Expressões Anarquistas Fotos do XI Expressões (realizado em Campinas) Abraços livres, nos vemos nas ações diretas!!!

domingo, 8 de setembro de 2013

Black Block: No singular ou no plural... mas do que se trata então?

Dossiê Antiglobalização/EUA (parte do livro Insurgência das Ruas, por Ned Ludd) Black Block: No singular ou no plural... mas do que se trata então? (Texto original na Revista Aurora Obreira 29) Há alguns meses que se houve falar de Black Block(s), principalmente nos meios de extrema-esquerda. Entretanto, quer entre os militantes anticapitalistas com o resto das pessoas, o Black Block assusta e fascina, desencadeando muito frequentemente um ódio bastante selvagem, ou, ao contrário, brados de aprovação, sem que grande parte necessariamente saiba do que se trata na verdade. A aura de mistério que envolve o fenômeno contribui para construir uma lenda e alimentar os mitos quanto a sua existência, sua razão de ser, os motivos e a natureza das suas ações. Por este sujeito valer mais do que as aproximações duvidosas às quais ele é frenquentemente reduzido, e pelo atual momento nos fornecer cada vez mais ocasiões para conhece-lo, falar com ele e explicar de forma sintética questões concernentes ao Black Block, e propor uma análise positiva (não escondemos!) do valor político que ele representa, de modo a - talvez - suscitar reações e debates sobre este sujeito. (...) Nos dias 16 e 17 de Abril de 2000, em Washington, aconteceria uma reunião do FMI e do Banco Mundial. Uma mobilização igualmente forte teve lugar, reunindo todos os integrantes da oposição à globalização e/ou capitalismo. Um Black Block (Bloco Revolucionário Anticapitalista, RACB) de aproximadamente mil pessoas teve presença marcante, optanto entretanto por uma tática resolutamente diferente daquela posta em prática em Seattle. O Black Block concentrou todos os seus esforços sobre a polícia, conseguindo fazer recuar as linhas policiais em várias oportunidades, forçar as barreiras policiais, libertar pessoas presas, arrastar a polícia além de seu próprio perímetro e enfraquece-la, defender os praticantes de desobediência civil contra as agressões policiais e lhes permitir que conseguissem ir mais adiante. Nessa oportunidade, o Black Block foi manifestamente uma força incrível que possibilitou o seguimento do conjunto da manifestação. Os Black Blocks estiveram igualmente presentes durante as convenções republicana e democrata, embora suas ações nessas ocasiões tenham sido menos significativas que em Seattle ou Washington. Durante a Convenção do Partido Republicano na Filadelfia nos dias 1º e 2 Agosto, o Black Block (Black Block Anti-Estatista, ASBB) tomou parte ativamente das manifestações e publicou em seguida um comunicado explicitando seus ataques contra a propriedade privada e contra a força policial efetuados durante as manifestações. Também um Clown Block participou, parodiando o mundo político institucional através de uma prática subversiva de teatro de rua, reprimida pela polícia. De 14 a 17 de Agosto, a Convenção do Partido Democrata em Los Angeles foi igualmente o palco de manifestações e ações diversas. A policia dispersa violentamente um concerto do Rage Against The Machine que ocorria ao lado do prédio onde teria lugar a convenção. Os membros do Black Block foram especialmente vítimas da brutalidade policial (um deles foi alvejado por balas de borracha e spray de pimenta enquanto agitava uma bandeira negra em cima de uma grade), e responderam repelindo os policiais atirando projeteis diversos. O que trazem os black blocks “Como Seattle, os Black Blocks trouxeram às ações a energia estratégica, da criatividade e da coragem, mas têm além disso manifestado uma grande vontade de respeitar as aspirações de outros participantes e não cessam de defender ativamente as pessoas menos preparadas” (Michael Albert, Znet Commentary, Assesing A16, Abril 2000). É fácil reduzir o “fenômeno” Black Block a algumas práticas que parecem tanto mais ridículas e limitadas quanto a frequência em que são caricaturadas. As ações dos Black Blocks não se limitam a uma destruição sistemática e sem objetivo. Olhando mais de perto ele parecerá, ao contrário, como um modo de organização e de ação política que encontra seus fundamentos numa análise crítica da militância de extrema-esquerda, e que pode lhe acrescentar bastante. A ação dos Black Blocks se inscrevem de fato na superação dos modos de manifestação política tradicionais caracterizados pelos lobby e reformismo. Os Black Blocks praticam uma desobediência civil ativa e a ação direta, afastando assim a política do teatro virtual perfeitamente domesticado, dentro do qual ela permanece muitas vezes encerrada (quando a contestação dos sistema se torna um elemento entre outros no tabuleiro de xadrez político, previsível e integrado nos cálculos políticos). Os Black Blocks reinserem a ação no seio da contestação e possibilitam um assalto direto sobre os elementos do sistema que eles rejeitam. Concretamente, os Black Blocks não se contentam com simples desfiles contestatários, certamente importantes pela sua carga simbólica mas incapazes de verdadeiramente sacudir a ordem das coisas. A ação dos Black Blocks contribui para realizar a política ao invés de somente expressa-la em palavras. Neste sentido, a ação política, passiva e/ou simbólica, torna-se ativa e até ofensiva. É claramente o que afirma o comunicado de um Black Block de Seattle, que recusa ser considerado uma simples força de reativa que dependeria assim unicamente das atitudes e caprichos do poder. Os Black Blocks se declaram portanto inteiramente a favor da ação ofensiva contra as estruturas de poder, tomando ao pé da letra o famoso slogan: “O capitalismo não se desmorona sozinho. Ajudemo-lo!” Essa atitude se caracteriza por várias ações controversas, em especial por danos causados à propriedade privada de multinacionais e outras empresas. A “violência contra a propriedade” “Em um sistema baseado na busca do lucro, a ação é mais eficaz quando ataca o bolso dos opressores. A destruição da propriedade, como forma estratégica de ação direta, é uma estratégica eficaz para atingir esse objetivo. Isso não é uma teoria... é um fato” (Comunicado do Black Block Anti-Estatista, Filadélfia, 9 de Outubro de 2000). Atacar a propriedade de empresas é, antes de mais nada, romper com as clássicas manifestações-desfile que “o poder” assimila perfeitamente. É dar um passo, e atacar frontalmente as multinacionais e outras industrias movidas a lucro num terreno que as afetam diretamente, aquele dos interesses econômicos. Causar danos materiais que se contabilizam em dólares é dizer claramente ás pessoas que falam apenas a língua do dinheiro que ele não são intocáveis, é sabotar um centésimo de seus lucros e lhes retribuir um milésimo da violência que suas atividades geram. Atacar a propriedade é certamente atacar (simbolicamente) o bolso dos proprietários, mas é também e sobretudo atacar sua imagem. Através de ações a alvos definidos, acompanhadas de comunicados explicativos, os Black Blocks que agiram em Seattle forma em certa medida bem-sucedidos em impor uma interpretação política de seus atos de destruição, publicizando assim as questões relativas às atividades e práticas das empresas alvos. Mesmo as mídias institucionais não puderam facilmente se livrar desse sujeito atribuindo os atos a “vândalos”, e tiveram de reconhecer o caráter político de certas ações (apesar disso não houve nenhuma mudança, a mídia institucional permanece aquilo que é - uma servidora do poder, bem entendido). Resumindo, é possível suscitar a atenção sobre a correção das atividades das empresas e até mesmo sobre a “natureza” do comércio ao se praticar essas ações diretas de sabotagem. Se essas ações permitem afetar a imagem das companhias que são alvo, elas permitem também transformar as percepções, modificando o valor concebido aos diversos bibelôs e símbolos do capitalismo. Através de seus comunicados, os Black Blocks legitimam e dão uma positividade a suas ações. Uma vitrine quebrada torna-se um novo lugar, liberado de todos esses símbolos agressivos que testemunham a onipresença arrogante do capitalismo e das várias formas de opressão que ele mantém e gera. Uma loja pilhada é uma coletividade que toma aquilo de que necessita, seja lá onde encontrem, curto-circuintando o processo mercantil, negando o valor de troca dos objetos e lhes reconhecendo o valor de uso. É afirmação da gratuidade contra o comércio, do roubo como forma de protesto político e meio de viver decentemente em um mundo onde nada é acessível sem dinheiro, nem mesmo a satisfação de suas necessidades vitais. Um muro pichado é visto como um pequeno pedaço de espaço urbano reapropriado, como uma abertura em uma cidade uniforme, branca e imaculada. É um ataque contra as superfícies cinzentas, melancólicas e assépticas. Uma fachada tornar-se então um lugar de expressão vivo e colorido, que dá a palavra às pessoas comuns e desprovidas. O impacto visual de um slogan escrito em um muro às pandegas rivaliza com a dos painéis publicitários, do cartaz oficial ou da tela da televisão que se impõem como os únicos meios de informação e de expressão, reservado àqueles e àquelas que podem ter acesso a eles - devido a sua posição social ou pela falta de questionamento dos fundamentos de um sistema alienante. Esses diferentes procedimentos, simples de serem realizados são a manifestação de um poder emanando da base, de um poder que não passa pelas estruturas oficiais para se exprimir, mas que escolhe um forma de expressão dissidente e mais direta. Estes meios simples, diretos e ao alcance de todos são portanto logicamente mais capazes de atingir os grupos mais desfavorecidos, os grupos mais marcados pela exclusão, aqueles e aquelas que sempre foram abandonados pela política e que acabaram por abandonar a política. Ao agirem concretamente sobre os objetos de sua revolta, os Black Blocks são mais capazes do que qualquer outro de se sensibilizar estes excluídos que comem o pão que o diabo amassou cotidianamente, mas que no entanto estão frequentemente condenados à resignação. O exemplo de Seattle é flagrante com respeito a isso: enquanto o conjunto do movimento de luta contra a OMC lastimava a pouca participação de pessoas de cor e/ou das classes sociais mais “baixas” nos eventos, as iniciativas dos Black Blocks atraíram (e foram as únicas a faze-lo) uma quantidade de jovens dos bairros negros e pobres. Do mesmo modo os Black Blocks podem assustar e desencadear a hostilidade de alguns, eles podem tornar a política e sua realização mais acessíveis, e agir como fator politizante e dinamizante dentro da luta contra o capitalismo. Estes momentos de ação contribuem à criação momentânea de situações onde tudo parece possível, onde a ordem balança, onde cidades parece reapropriada, “liberada” em alguns pontos. Estas Zonas Autônomas Temporárias são muito importantes: trata-se de toda uma ação sobre o ambiente, sobre as possibilidades que ela deixa entrever às pessoas - o fato de que outra coisa é possível, de que a merda cotidiana não é uma fatalidade. Estes instantes de exaltação - onde o mundo todo parece desmoronar - estão certamente deslocados em relação a realidade, que em geral restabelece logo a ordem, mas são benéficos e indispensáveis. São apenas ocasiões que dinamizam, dando esta impressão de que nada será mais como antes, podendo ser catalisadores de energias, pontos de partida de iniciativas, de criações e de ações. Nos muros de Seattle lia-se “We are winning!” (”Estamos ganhando!”). Para muitos, parecia que isto não erra completamente falso. A experiência de Seattle, e do Black Block em particular, foi um impulso considerável ao movimento anarquista norte-americano. Não só por causa da multiplicação das ações e da quantidade de participantes... Entretanto, a importância dos Black Blocks não se resume a estes poucos exemplos. Seus modos de organização e estruturas, assim como sua evolução no decorrer das manifestações, explicam para muitos este sucesso e resultado. Organização horizontal, fluida e evolutiva “A polícia não gosta da guerrilha urbana que não se encaixe bem com as suas táticas militares: ela quer eventos lentos, monolíticos, imóveis e previsíveis, para poder empregar sua força de controle paquidérmico e sua ordem hierárquica planificada” (Dan Je sait tout, Genebra, 3 de Junho de 2000). Uma das caracteristicas dos Black Blocks é sua forma horizontal, não-hierarquica, própria para evitar a lentidão de uma gestão centralizada. Não existe chefe nem verdadeiro plano unitário, mas sim indivíduos que constituem pequenos grupos de afinidades independentes uns dos outros. Esse modo de funcionamento permite uma relativa autonomia, no lugar de uma organização global muitas vezes sufocante (e mais propícia a expressar relações de poder). A organização em grupos de afinidade permite tomadas de decisão bem mais rápidas e igualitárias (os grupos são constituídos de uma pequena quantidade de pessoas que se conhecem), e deste modo facilmente as mudanças e evoluções instantâneas desorientam a polícia. Além de grupos de afinidade permitirem uma gestão fluida da ação, eles também são de grande valor estratégico frente à repressão policial. Uma massa de pessoas interdependentes são mais facilmente controláveis pela polícia do que um conjunto de pessoas organizadas em pequenos grupos autônomos e móveis, suscetíveis de tomar decisões rápidas e de surpreender. Apesar das suas táticas de controle de manifestações, a policia pode se encontrar completamente desarmada face a uma imensidão de grupos que agem simultaneamente. No lugar de enfrentar uma organização rígida a qual pessoas seguem (exemplo típico: a cabeça de uma manifestação e o resto do cortejo), ela deve enfrentar vários grupos que agem de maneira independente e simultânea. Para o ou a manifestante, trata-se portanto de se tornar atriz ou ator de seus movimentos ao se organizar, ao invés de seguir desastrosamente ou cegamente e ser encurralado. Um outra característica dos Black Blocks é a evolução de suas estratégias. Em Washington, sua presença era impressionante. Embora todos esperassem que os Black Blocks atacassem a propriedade, eles, ao contrário, dirigiram todos os seus esforços aos meios de resistência à polícia e a debilita-la de modo permitir ao conjunto da manifestação ganhar terreno. Essa evolução é significativa. Ela prova que sem organização centralizada e hierárquica, os Black Blocks são capazes de tomadas de decisão coletivas a grande escala, sem comprometer a autonomia e independência dos grupos de afinidade que os constituem. Além disso, uma tal decisão supõe um distanciamento e uma visão crítica em face das ações precedentes, importantes faculdades de autocrítica e de tomada de decisões táticas, que até aqui estiveram ausentes em muitos outros que compõem o movimento anticapitalista. a DAN (Direct Action Network, rede de desobediência civil não-violenta muito ativa durante as manifestações contra globalização) por exemplo aplicou as mesmas técnicas que aplicara em Seattle, sobre as quais a polícia estava amplamente avisada, e portanto, preparada para combate-las. Por ter previsto esta situação, o Black Block mostra que não é somente capaz de antecipar e agir em consequência, mas que ele não se detém a um meio de ação particular, que a destruição de propriedades não é um fim em si, mas um meio entre outros, propício em certas ocasiões mas podendo dar lugar a outras técnicas por vezes mais adequadas a uma determinada situação. Contra os Black Blocks “Estamos aqui para proteger a Nike, o Mc Donald’s, a Gap e todo o resto. Onde está a polícia? Estes anarquistas deveriam ser presos” (Medea Benjamin, líder da Global Exchange, uma ONG, no New York Times, 2 de Dezembro de 1999). Essas ações não-violentas foram interrompidas e desviadas do objetivo pelos pequenos bandos de vândalos que derrubaram máquinas de vender jornal e claramente quebraram algumas vitrines no centro da cidade. A polícia foi incapaz de identificar e de prender esses poucos indivíduos associais. Por que a polícia não identificou e prendeu esses vândalos mais depressa? Se ela o fizesse, teria me evitado esta tarde desagradável e este constrangimento. Não viemos para destruir Seattle, estamos aqui para esclarecer o efeito destrutivo da OMC (Mike Dolan, da ONG Public Citizen, no World Trade Observer, 1º de Dezembro de 1999). A semelhança entre as declarações de certos manifestantes e o discurso oficial é bastante evidente, e dá contra da hostilidade de uma parte da “contestação de esquerda” frente às atividades mais radicais dos Black Blocks, e por outro lado da participação ativa destas mesmas pessoas no sistema repressivo. Já que, para lá de simples divergências de opinião, é também nos acontecimentos que é manifestada esta hostilidade. (...) Agindo sem desconsiderar essas ações “não-violentas” e nem contra elas, os Black Blocks tem muito frequentemente participado ativamente, afirmando-se como força política essencial ao movimento de luta anticapitalista e não como fenômeno marginal. Essas criticas na prática “A coordenação de organizações de participantes deve preparar futuramente ainda mais os manifestantes para imobilizar e entregar à polícia qualquer “hooligan” indesejável. Mesmo se um “hooligan” viesse sofrer algo, seria apenas uma pequena perda ao lado das 20 mil crianças que morrem diariamente sob o reinado das multinacionais” (Ole Fjord Larsen, membro da United Peoples, no Future planning after Seattle, 12 de Dezembro de 1999). É fácil responder a essas críticas muitas vezes grosseiras: elas são manifestadas de maneira até mais problemática pelos gestos de violência que as vezes põem em perigo membros dos Black Blocks. Com efeito, durante a “batalha de Seattle” algumas pessoas foram atingidas por manifestantes que diziam se opor à violência e que as acusava de sabotar a manifestação (que paradoxo!). Por várias vezes algumas pessoas tentaram arrancar as máscaras do Black Block, ou até mesmo entregar seus membros à polícia! Muitas vezes o Black Block teve de lidar com estes pacifistas fundamentalistas que constituíam uma verdadeira “polícia da paz” mais do que a polícia com uniformes. Esta atitude reativa contra toda a críticaa que se exprima de outro modo que não através de desfiles bem-educados, participa plenamente do sistema repressivo posto em prática pelas autoridades. Qual é a revolta deste chamados “pacifistas” que comportam como policiais quando não há policiais, que usam violência física (pondo de lado sua própria coerência) contra aqueles que quebram a tranquilidade servil de seus desfiles contempladores? Seus objetivos parecem os mesmo dos policiais: preservar a paz social não importa a que preço. Exterminar a revolta, visto que aqueles que ganham sentido e se engajam de maneira pouco mais concreta do que apenas através de palavras esvaziadas do seus significado. Estes “pacifistas” direcionam erradamente a sua raiva, e têm uma séria necessidade de tomar consciência de sua própria participação nas estruturas repressivas que estão supostamente a denunciar. Portanto, eles constituem um certo perigo para aqueles que querem tomar seus desejos por realidade, e antecipar alguns tijolos desta famosa “mudança global” que demora tanto a chegar... Enfim, o fato destas poucas críticas serem tão grosseiras e ridículas, tão violentas e perigosas, não significa no entanto que ele livra os Black Blocks de qualquer crítica. Seria no entanto bom faze-la inteligentemente, começando por reconhecer a utilidade que até agora eles têm provado possuir. Conclusão (...) No curso das manifestações destes últimos meses, pode-se observar cada vez mais o Black Block se formar. Esse movimento parece expressar uma certa radicalização dos meios de extrema-esquerda e anarquista americanos, ao mesmo tempo que talvez signifique um retorno do interesse pelas ideias e práticas libertárias. Mas o Black Block é mais do que um indicador de tendências. Parte integrante deste processo é o afastamento dos protestos rotineiros do reformismo e da contemplação, reinventando e popularizando um desobediência civil ofensiva. O Black Block não é somente um avanço em relação aos meios de contestação tradicionais, mas também um avanço em relação à ação ilegal isolada, que ganha sentido no quadro de uma luta global e política. O Black Block é também a desorganização organizada, a possibilidade de se associar eficácia estratégica e prática igualitária, radicalidade e lucidez política. Por todas essas razões, o Black Block me parece uma verdadeira força política, portadora de numerosas dinâmicas e potencialidades quando ao futuro das lutas anticapitalistas e anti-estatistas. Penso que se a iniciativa do Black Block deve ser encorajada, ela deve necessariamente ser acompanhada de discussões e análises críticas desse sujeito. O Black Block deve evitar fixar-se em um modo de ação particular ou perder-se na auto-satisfação, e assim evitar questionar-se mais adiante. Pelo contrário, essas práticas “radicais” podem ser igualmente ocasiões de levantar questões essenciais: questões relativas às discriminações (sexismo, racismo, especialmente), ao caráter identitário e potencialmente excludente dos Blocks etc. Uma vez que não se trata simplesmente de se unir contra o sistema, mas de combater aqui e agora as discriminações que existem em nosso seio, e que perpetramos no cotidiano pela falta de questionamento de nossos comportamentos. As ações do Black Block podem em comparação com uma verdadeira vontade igualitária e ofensiva em face, pela negligência e pelo consentimento, fortalecer relações de dominação mascaradas por uma luta contra o inimigo comum. Eu espero, por minha parte, que a expansão dos Black Blocks se faça naquele sentido, e que as recentes proposições visando uma maior coordenação dos grupos permitam a expressão de posições políticas e debates construtivos a esse sujeito. Darkveggy http://anarkio.net/index.php/arti/361-black-block-o-que