terça-feira, 25 de março de 2014

Incêndio na Triangle Shirtwaist, Nova Iorque, 25/03/1911.

Incêndio na Triangle Shirtwaist O total de mortos foi de 146, sendo que 91 pereceram no incêndio e 54 nas quedas. “O incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist em Nova Iorque a 25 de Março de 1911 foi um grande desastre industrial que causou a morte de mais de uma centena de costureiras que morreram no fogo ou se precipitaram do edifício.

Nós lutamos contra todas formas de Opressão!

domingo, 2 de março de 2014

A maldição do Anarquista


 / 


Este texto é um desabafo sobre algo muito chato que muitos de nós anarquistas já sofreram. Trata-se de um texto sobre o peso desse rótulo e sobre o quanto as pessoas esperam que abandonemos ele. Do mesmo modo que dizem a um ateu: “esconda isso porque o mundo é cristão”, dizem a nós, anarquistas: “esconda isso, porque o mundo é governista.”
Passei algum tempo tentando evitar alguns rótulos, com medo de ser delimitado por eles de alguma forma e um dos rótulos que me incomodava bastante era o rótulo de “anarquista”. Eu tenho até um certo orgulho de meu ideal, porém as pessoas já não viam minhas reflexões como minhas, viam como algo parecido a “mais uma coisa de anarquista”. Além disso, passaram a me identificavam com qualquer coisa dita por qualquer pessoa que ache ou se autoproclame “anarquista”, em especial se aquilo fosse algo estúpido. Passei a me sentir policiado, como se todos estivessem buscando, de algum modo, me colocar contra a parede em algum tipo de contradição. Tudo bem, eu tenho minha parcela de culpa, quando descobri o anarquismo passei a enxergar soluções diferentes, muito mais lógicas e que não explorassem nem exigissem submissão ou aniquilação da vontade de ninguém, o que para meus conjuntos de valores foi lindo. Isso me deixou em estase e pela primeira vez conseguia ver caminhos para os problemas sociais e um futuro para nosso mundo. Eu tinha que gritar isso para os sete ventos e foi o que fiz. Citações de autores e filósofos, contestações, críticas sociais, subversividade em sua mais pura forma! Como as pessoas não viram isso antes? Como nos permitimos viver anos sendo dominados? Como as pessoas mais contestadoras que até então havia conhecido podiam se contentar no “socialismo” quando existe uma liberdade tão mais saborosa nos esperando?
Gritei sim! E não me arrependo! Mas isso gastou minha fala, isso tornou-se, de algum modo bizarro, repetitivo. Bizarro porque a televisão grita os valores capitalistas, mas nunca se torna chata. Eu, em alguns meses gritando novos valores, ou melhor, questionando velhos valores, me tornei chato e na ignorância do público, “previsível”. Coloco “previsível” entre aspas, pois eles me achavam previsível baseados num anarquismo caricato, num rótulo criado por seus próprios preconceitos com a palavra, o que eu tinha a dizer era totalmente novo. Foi nesse contexto que recebi inúmeros conselhos, me alertando para uma possível “agressividade” em minhas palavras, “extremismo” em meus posicionamentos e principalmente me alertando para não “assustar as pessoas” com a palavra “anarquismo”, pois é uma palavra muito maldita, as pessoas não se identificam, não interpretam bem.
Então desejei não ter mais este rótulo. O próprio anarquismo é um abandono dos rótulos, logo não fazia sentido ostentar um rótulo e assim permaneci, na neutralidade, na pacificidade, passivo, buscando comunicar de um modo que não assustasse, acreditando que “todo ismo é ruim”, que o verdadeiro anarquista não pode se dizer anarquista e naquela baboseira de “vamos abandonar os rótulos, dar as mãos e ser felizes”. Quem dera fosse tão simples. Houve uma parte boa, desenvolvi outros modos de comunicação, a euforia  de querer gritar “Liberdade!” ao mundo passou, me deixando menos ansioso, mas havia um buraco.
Foi então que a ficha caiu. A neutralidade favorece sempre aos opressores. Eu estava me curvando, deixando que o preconceito triunfasse sobre mim. Anarquismo é acreditar no ser humano, sem líderes, sem deuses, sem senhores, o que há de errado nisso? Se um dia esse nome foi maldito é porque existe um grande interesse em que o ser humano não acredite que possa viver sem que haja alguém acima dele. A hierarquia é algo que, quando questionada, incomoda qualquer um que desacredite no ser humano.
A maldição do anarquista foi conjurada por bruxos reacionários e é repetida por companheiros e pessoas próximas tão ferozmente justamente porque o anarquismo é o único ideal que ousa acreditar de verdade no ser humano. Os demais ideais dizem acreditar, mas sempre com ressalvas! Sempre com estados transitórios, hierarquias mais sutis, lideranças mais amenas, chicotes mais macios e grilhões mais confortáveis. “Vamos manter um pouquinho de controle externo e coerção aqui, só para garantir!” Por isso acredita-se até hoje que “anarquia é caos”, e toda vez que alguém vem me dizer “essa é uma palavra muito forte” ou questionam de alguma forma a horizontalidade eu logo compreendo que é mais uma mente limitada a não acreditar na própria capacidade humana. Alguém que não consegue conceber a liberdade e prefere acreditar em forças repressoras. Sejam essas forças sutis como um representante ou vanguarda partidária ou pesadas como uma ditadura militar, no final tudo se resume ao medo da liberdade.
Logo notei que não é a toa que existe uma força que tenta calar a nós anarquistas e nos jogar para baixo. É uma força presente em todo o “não-anarquista”, é o medo da liberdade e a descrença na capacidade de nos organizarmos sem hierarquias. Do mesmo modo que um cristão acha um ateu algo muito agressivo, ou que um machista acha o feminismo algo muito agressivo, acreditar no anarquismo é agressivo ao status quo, e essa ofensa pode atingir até mesmo a grandes questionadores. “Como assim? Eu questiono o capital e esse sujeito consegue questionar além do capital e chega a questionar a própria necessidade de um Estado?” Um anarquista faz com que qualquer subversivo partidário pareça um direitista.
Um ateu, também é aconselhado a não se dizer ateu, e pode passar anos “no armário”. Fazendo até mesmo um paralelo a um nível muito distante, as minorias oprimidas são forçadas a se esconder para não “ofender” os opressores dominantes. O pensamento é muito parecido, “se não está enquadrado no status quo você tem que ir com calma para não magoar”. E ainda querem nos convencer que esconder-se é uma estratégia de luta. Mas e a memória da luta anarquista na qual eu acredito? Isso não é estratégia, é submissão. Se mais pessoas passarem a declarar-se ateias, o preconceito contra ateus entra em colapso, com o anarquista não é diferente!
Por isso escolhi ser anarquista sim, e daí? O rótulo negativo que metem em nossas testas não foi feito por nós, mas sim por anos de história e de medo da liberdade humana, esconder-se não mudará nada, para o rótulo sumir temos que assumir nosso ideal e mostrar para as pessoas que anarquismo não é bagunça! Existe sim um grande preconceito contra nosso ideal, e podemos sentir isso todo dia, somos alvos de criticas da direita e da esquerda partidária, somos perseguidos nas ruas por grupos neonazistas, acusam nossos militantes de “desorganizados” baseando-se apenas em debates virtuais, sem nunca ter comparecido a uma reunião presencial conosco (que é aliás uma das formas mais organizadas de se confraternizar que já pude presenciar), não entendem a proposta anarquista e querem dizer até mesmo se você é ou não é um anarquista, como se houvesse algum tipo de teste ou pré-requisito para isso e como se o avaliador pudesse ser alguém que nunca se quer pisou em espaço anarquista ou leu um de nossos autores, nos enchem, diariamente, com questões sobre meios de produção, punição de crimes entre outras para tentar “destruir nosso mundo de ilusão”, nos consideram utópicos, vândalos, satanistas, malditos, somos as ovelhas negras de qualquer família, perguntam se já pensamos em nos unir a um partido/religião, nos temem, nos evitam, nos ridicularizam e nos infantilizam e ainda querem que a gente se esconda, julgam se somos ou não anarquistas baseados em uma fala ou em uma estampa em nossas camisas, para ter uma opinião levada a sério em qualquer assembleia precisamos elaborar a fala de uma maneira muito mais inteligente, porque não contamos com confiança alguma, muito pelo contrário, nossas falas são ouvidas com absoluta desconfiança!
Somos malditos, mas jamais nos calarão!
Imagem
De: http://caosemfluxo.wordpress.com/2014/03/02/a-maldicao-do-anarquista/

“Não se pode matar a Ideia a tiros de canhão, nem tão pouco acorrentá-la.” — Louise Michel